EXCLUSIVO! A reabertura na Itália: o depoimento da brasileira Ana Paula Della Monica!
No dia 24 de março deste ano, postei aqui o depoimento da querida Ana Paula Della Monica, uma amiga brasileira – que atualmente mora na Itália, em Údine. Paula, como eu a chamo, foi Head de Marketing da Eletromídia, empresa de OOH, notícia frequente no outro site para o qual eu escrevo, o Janela Publicitária. À época o seu depoimento “bombou” aqui no site. Ela deu um depoimento sincero, que respondeu a muitas dúvidas que nós, brasileiros, tínhamos sobre o temido coronavírus e a tal da quarentena.
Hoje, quatro meses depois, felizmente!, a Itália soube sair do isolamento – muito melhor do que nós, diga-se – e a vida voltou a seguir em frente. Da mesma maneira? Óbvio que não, por isso mesmo, fiz questão de pedir à Paula que nos contasse como ela e a família estão vivendo por lá.
Experiências pós isolamento
Para Paula, os brasileiros tratam o assunto com descaso e irresponsabilidade. Como os italianos lidaram com isso?
“Depois de tanto tempo de isolamento social e lockdown (nem sei se horizontal, só sei que foi geral), de março a junho, a Itália, no mês passado, iniciou aos poucos a reabertura, tanto internamente, como a das suas fronteiras.
Para compreendermos melhor:
“Esta reabertura calhou, justamente, com a chegada do Verão e com ele, as férias. As sagradas férias de verão.
Sim, aqui na Itália as férias de verão são “sagradas”, tudo para, literalmente. O comércio adapta seus horários, a vida passa a ser “outdoor” e mais devagar… e os italianos têm a fama e fazem jus a ela, de ser um dos povos que mais viajam e curtem o verão na Europa.
Mas ops…esse ano temos rondando o fantasma de um vírus extremamente perigoso, a economia em frangalhos e a incerteza de quais passos daremos amanhã”.
Posto isso, voltamos à questão da reabertura:
“Na Europa, a Itália foi um dos primeiros países a sofrer as consequências do rápido contágio do vírus, infelizmente porque, no início, tanto o governo, como os italianos subestimaram a pandemia. No entanto, ao perceber que não era passageiro e que realmente se tratava de algo sério e de impactos destrutíveis para todos, o governo decretou o lockdown e imediatamente todos os italianos aderiram à medida e se submeteram aos esforços físicos e psicológicos que um lockdown traz. Vivemos as agruras e as preocupações em todas as fases, mas permanecemos fechados com as diretrizes do governo e o apoio geral da população.
A partir de junho o comércio reabriu com as regras de segurança, como distanciamento, máscaras, álcool gel e luvas descartáveis nas portas; as grandes cadeias de lojas contam também com medidores de temperatura para todos que entram e, claro, além da questão principal que é o controle da quantidade de pessoas em todos os lugares fechados.
Os italianos estão aderindo à campanha de consumo de produtos da região, justamente para ajudar e incentivar o comércio local. Ao mesmo tempo, a relação inversa também está sendo trabalhada pelos comerciantes com os clientes, ou seja, não vemos por aqui aumento de preços nos produtos e serviços. E, inclusive, tenho reparado o movimento, em alguns tipos de comércio, na contratação de pessoas.
Claro que tivemos baixas, muitas lojas, cafés e restaurantes não aguentaram a pressão do lockdown e, infelizmente, fecharam seus negócios. Mas os que suportaram estão unidos pela “reconstrução”, se assim podemos chamar esta fase.
As empresas também ensaiam desde junho uma volta presencial, mas a maioria dentro das possibilidades reais estão adotando o “home office” como uma prática comum. Por aqui esta é uma tendência que veio para ficar, ao menos por enquanto, em função de redução de custos e segurança. Os italianos parecem gostar da ideia, afinal, com a chegada do verão e como a grande maioria não conseguirá viajar, o “home office” torna possível adaptar os horários com uma ida ao parque, uma caminhada ou mesmo um mergulho na praia ou no lago/rio mais próximo.
Para evitar uma depressão econômica entre 2020 e 2021, o governo está trabalhando em um plano nacional de reformas, no qual se estuda um alívio na carga tributária direta e indireta justamente para que estas sejam mais justas, simples e transparentes (aqui na Itália os tributos são altos, tanto para as empresas, como para os cidadãos). Esta reforma deverá reduzir a carga tributária da classe média e de famílias com crianças, acelerando a modernização do país e uma maior sustentabilidade social e ambiental.
De encontro com o que alguns especialistas afirmavam sobre a possibilidade de uma segunda onda de Covid-19, temos escutado sobre novos focos de contágio por toda a Itália, e todas as regiões já estão em alerta novamente, embora a situação pareça estar controlada desta vez e todos saibam do potencial desse vírus. Ou seja, reparo que o movimento de pessoas pelas ruas já ficou um pouco mais discreto novamente.
O que tenho escutado por aqui é que, mesmo com as fronteiras abertas, este ano, em função, tanto da crise econômica como da insegurança sobre uma possível nova onda, os italianos devem ficar pela Itália no verão e com isso, o setor de turismo, que foi tão devastado, deve ter um pequeno fôlego suportado pelos próprios italianos. E este setor está se reinventado com o turismo local, temos alguns amigos que trabalham neste ramo e nos contaram o quanto o turismo sofreu e deve sofrer até 2021. Alguns estimam a retomada do setor apenas para 2022.
O que nos conforta por aqui é a união da população e, bem ou mal, o suporte do governo que, mesmo com todos os problemas e forças antagônicas, se unem por um bem comum: a retomada da Itália.
E a gente continua com a esperança de que uma vacina venha rápido e a tal segunda onda não aconteça…”
Nós também, Paula, querida! Infelizmente, o governo brasileiro não é digno de elogios sobre a conduta durante esta pandemia, ao contrário, é de envergonhar qualquer brasileiro que sonha com um país melhor e com condições mínimas de vida. Seguimos, todos, de dedos cruzados e pensamento positivo, torcendo por essa vacina, que há de chegar, o quanto antes! Para que então, você possa nos contar como a Itália retomou, enfim, as rédeas da vida sem nenhuma ameaça iminente. Vamos acreditar que dias melhores virão!