Confinamento na Itália: o depoimento da brasileira Ana Paula Della Monica

Conheci Ana Paula Della Monica em 2018. À época, ela era Head de Marketing da Eletromídia, empresa de OOH, notícia frequente no outro site para o qual eu escrevo, o Janela Publicitária.
A Paula é uma daquelas pessoas que é impossível não gostar imediatamente. Sorriso rasgado, simpaticíssima, gentil, competente e de trato e papo fácil, daqueles que se deixar, jamais terminam.

Ana Paula Della Monica
Em 2019, ela e a família – marido, casal de filhos e a fofa da Mel, uma shitzu – arrumaram malas, bagagens e foram morar na Itália, mais precisamente, em Údine, na região Friuli Venezia Giulia. A minha ascendência italiana, avô nascido na Calábria e família materna de lá, me fez ficar com mais vontade ainda de fazer o mesmo. Mas eu bem sei o quanto uma mudança desse tipo é difícil, apesar do tanto de coisas maravilhosas que também acontecem para quem encara essa decisão. Fato é, que eles foram e, além de a adaptação ter corrido da melhor maneira, a família de Paula e Marcelo fez o que quem decide por isso deve fazer: aproveitou para conhecer países da Europa e outras cidades italianas de cair o queixo de tão lindas. E os amigos brasileiros, eu entre eles, seguia os passos e as aventuras dos cinco por lá. As fotos eram lindas! Uma mais incrível do que a outra.

A família: Marcelo Scappaticci, Sofia, Gabriel, Ana Paula Della Monica e a shitzu Mel
Mas, e tem sempre o tal do mas, eis que surge o temido Coronavírus – o Covid-19 – e coloca a Itália, e o mundo, em pânico. Como moradores do segundo país a ser atingido de forma assustadora pelo vírus, da noite para o dia, Paula e sua família foram obrigados a passar por mais uma adaptação, a do isolamento. Há pouco mais de uma semana, quando eu estava em São Paulo, esse pânico chegou de forma bastante palpável ao Brasil e, principalmente, à capital paulista, onde a própria Paula morou por tantos anos. Por Facebook, ela me contou como estava sendo viver aquilo tudo.
Não sei você aí que me lê, mas eu desconfio de muito do que leio, ouço e assisto. Por isso mesmo, fiz questão de convidar a Paula para dar o seu depoimento e contar o que ela tem visto e vivido por lá.
“Estamos seguindo todas as medidas passadas pelo governo e esperando que tudo se normalize, mas registro que os mercados estão abastecidos, postos de gasolina idem. Os italianos estão demonstrando cooperação e consciência, sem pânico.
Estamos preocupados porque a situação aqui na Europa realmente estava se tornando cada dia mais séria, será um ano difícil para recuperar…mas estou impressionada com a união e o respeito do italiano para com o governo e para com o próximo, mesmo em meio a uma crise política, a Itália está unida. As ruas vazias, é impressionante.
As crianças já estão na segunda semana de aulas online, inclusive aos sábados, tarefas de casa e até alguns exercícios orais como prova. As aulas seguem das 08:30 às 12:30 e algumas aulas à tarde.
Em princípio, as medidas devem ir até 3 de abril, tomara que tenhamos boas notícias em breve!
Eu só espero que no Brasil não seja tão grave como aqui…meu pai é grupo de risco altíssimo e estou bem preocupada. O pessoal no Brasil precisa começar a levar a sério! O reflexo na economia pode ser devastador, enfim, agora é esperar o fim da quarentena por aqui e torcer para dar tudo certo.”
Essas foram as primeiras impressões da Paula, lá em Údine. Hoje, voltamos a nos falar e fiz algumas perguntas para ela, que, acredito eu, possam elucidar algumas dúvidas suas também.
- Há quanto tempo vocês estão em isolamento? “As primeiras medidas, regionais ainda, foram tomadas na semana de 23 de fevereiro, porém, infelizmente, o tom ainda não havia sido de emergência e, com isso, a população continuou indo aos cafés, restaurantes e bares, embora aqui no norte da Itália, com os casos avançando, o Carnaval de Veneza foi cancelado antes da data prevista para o término – dia 25 de fevereiro – e as escolas não voltaram às aulas no pós carnaval. Ainda com uma esperança de que a medida durasse uma semana a dez dias. Contudo, o que aconteceu foi exatamente o oposto das previsões, a situação começou a piorar, dia após dia, e o governo tomou a medida chamada ‘Chiusura Totale’, em 9 de março, ou seja, estamos em confinamento total há exatamente 15 dias.”
- Há previsão de quanto tempo ainda durará esse confinamento? “Em princípio, como eu disse, devemos seguir essas orientações até o dia 3 de abril, se a situação melhorar, como temos visto através dos números nos últimos dois dias. O número total de pessoas infectadas até 23 de março chegou a 63.919, dos quais 7.423 se recuperaram e 6.077 morreram. A curva de aumento percentual do total de infecções caiu, nacionalmente, de 10,3% para 8,1%, apontando para uma tendência de queda que deve ser confirmada nos próximos dias.”
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Como vocês estão fazendo em relação às coisas simples do dia a dia, tipo mercado e farmácia? “Nos organizamos para sairmos apenas uma vez por semana, apenas uma pessoa da casa sai para fazer o mercado. Quando voltamos, sapatos e casacos ficam fora de casa e entramos direto no banho. Sacolas vão direto para a nossa lavanderia e, antes de tirarmos as compras, já passamos álcool por fora e nas alças das sacolas. Como temos uma shitzu, a Mel, saio com ela apenas uma vez por dia até a esquina e quando volto, lavo as patas dela e, consequentemente, minhas mãos e a torneira. Em seguida, passamos álcool na fechadura e ninguém mais sai. Aqui, aumentamos a nossa consciência em relação ao consumo e à importância do planejamento, pois fazemos o mercado apenas uma vez por semana.”
Desde a última sexta-feira, dia 20, em algumas regiões da Itália – inclusive a região onde Paula mora – as medidas se tornaram ainda mais restritivas. Confira:
– Passeio com cachorro apenas a 200 metros de casa e, se possível, uma vez ao dia, com risco de multa e punição
– Todo comércio e serviço que não seja essencial à população, como mercados, farmácias, transporte, coleta de lixo, serviços financeiros e apêndices essenciais às atividades de produção relevantes para a produção nacional, foram fechados até o dia 03 de abril também – isso porque, por exemplo, pet shop abria com restrição ao número de pessoas que entravam e tabacarias ainda estavam abertas.
– Proibição de prática de esportes ao ar livre
– Fechamento de parques públicos e jardins
– Proibição de entregas delivery – por exemplo, os estabelecimentos online não podem mais entregar o que não for essencial, como comida e remédios.
Na região onde onde Paula e sua família moram, não houve desabastecimento em mercados, postos de gasolina e farmácias. As filas eram em função da restrição à quantidade de pessoas nos estabelecimentos. E todos respeitam a distância de segurança – de 2 metros -, e o tempo na fila, mesmo com o frio que ainda está intenso por lá.
Os filhos de Paula já estão na terceira semana de aulas online, inclusive aos sábados, tarefas de casa e até alguns exercícios orais como prova. As aulas seguem das 08:30 as 12:30, e algumas aulas à tarde.
Paula e o marido mantiveram as rotinas dos cursos, agora todos online: “Percebemos a importância de manter uma rotina e desenhamos uma nova, neste período, que seguimos à risca, exceto aos domingos. Temos horários para acordar, dormir e temos feito inclusive 40 minutos de exercícios dentro de casa com alongamento e tonificação para os músculos.
Filmes apenas depois do jantar e com horário para as crianças irem para a cama, afinal as aulas deles começam às 08h30″, conta Paula.