É preciso coragem!
Este 12 de agosto de 2021 vai ficar marcado na memória. Na minha, ao menos. Não apenas por ter se tornado a data da morte de Tarcísio Meira, um dos maiores ícones da cultura deste país, como por ter acontecido hoje também, o depoimento, na CPI da Covid, do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, um dos responsáveis pela tragédia em que se transformou a pandemia da Covid-19 aqui no Brasil.

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros: um daqueles casos em que quem vê cara, vê coração, infelizmente
O nome de Ricardo Barros entrou no radar da CPI porque, de acordo com o deputado Luis Miranda, o presidente Jair Bolsonaro teria citado Barros ao ouvir denúncias de irregularidades na negociação do Ministério da Saúde para comprar doses da vacina Covaxin. A sessão desta quinta-feira no Senado foi cancelada para interromper o “show” de Ricardo Barros, que insistiu na estratégia de desqualificar depoentes, transferir responsabilidades e tumultuar.
Lamentavelmente, desde o início da pandemia da Covid-19, dezenas de nomes importantes – além dos milhares de brasileiros desconhecidos – perderam suas vidas devido à irresponsabilidade do atual governo brasileiro que resistiu a comprar as vacinas quando elas foram oferecidas pelos laboratórios fabricantes e teimou, por motivos financeiros, em indicar à população o tal ‘kit Covid’, que levou alguns milhões de reais aos bolsos de algumas indústrias farmacêuticas. Entre os brasileiros conhecidos, que tanto contribuíram para a cultura brasileira e morreram vítimas da doença, estão o escritor e dramaturgo Antonio Bivar, o ator Paulo Gustavo, o compositor Aldir Blanc, a atriz Nicette Bruno, o cantor Genival Lacerda, além de tantos outros que farão uma falta maior do que podemos imaginar.
Para onde vai a cultura deste país? A quem interessa esvaziá-la? Até quando os brasileiros se darão o direito de brincar na hora de votar? Não sou dessas que acreditam em golpe. Na minha opinião, quem prepara um golpe teria, ao menos, a inteligência de mantê-lo em segredo. No caso do atual presidente brasileiro, a inteligência não está entre as suas características; o interesse parece ser o de desestabilizar ainda mais a população e, principalmente, seus oponentes políticos e a sua oponente principal, diga-se, apenas na cabeça dele: a imprensa, tão agredida, desrespeitada e atacada por Jair Bolsonaro.
Viver neste país exige coragem, muita coragem. Uma coragem diária pra não sucumbir, pra não esmorecer, pra não entregar os pontos. Fácil não é, mas continuamos, aos trancos e barrancos, resistindo. Por isso mesmo, hoje, aqui neste site, fica registrada a minha indignação. No mesmo dia, morre um ator espetacular, que nos brindou com um João Coragem tão brasileiro, com um Euclides da Cunha tão impactante e, além de tantos outros personagens, um Renato Villar, empresário tão a cara dos políticos deste país. No mesmo dia, um deputado eleito por milhares de brasileiros debocha de todos nós, ri da nossa cara e desafia a nossa capacidade de indignação. Até quando assistiremos a tudo isso como se fosse uma – animada – série da Netflix, que não nos diz respeito?
As vidas que se foram são de milhares de brasileiros que, cada um a seu modo, contribuíram para que todos nós vivêssemos aqui. Você ainda consegue ler e assistir a tudo isso pra depois colocar a cabeça no travesseiro? Até quando? Hoje foi um dos homens mais brilhantes deste país. E amanhã? Serei eu, você ou quem mais?