Covid-19: Eu fui vacinada!
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Quando criança, eu tinha verdadeiro pavor de injeções. Era falar na hipótese de ser vacinada e eu abrir o berreiro. Felizmente, durante toda a minha infância, eu tive um anjo pra chamar de meu: dr. Asdrúbal, o pediatra que cuidou de mim incansavelmente. Ele era aquele cara que toda criança ama! Divertido, engraçado, bem humorado, gentil, carinhoso e o defensor número um de seus pacientes. Sempre que surgiam as benditas campanhas de vacinação, ele me salvava! Minha mãe avisava à coordenação do colégio que eu tomaria a vacina no consultório do pediatra e assim era feito. Qual a diferença? Ele, claro! E se o pavor às injeções era quase palpável, a maneira como o querido dr. Asdrúbal conduziu o meu medo, fez toda a diferença. Fato é que, adolescente, eu passei a encarar as vacinas sem medo e, curiosamente, quando alguma me deixava um pouco insegura, eu lembrava do que o dr. Asdrúbal me disse no dia em que, oficialmente, fui informada por ele que, dali em diante, seria atendida por um outro profissional. E não, ele não estava se aposentando, tampouco havia cansado de mim. No dia 28 de dezembro de 1976 – no meu aniversário de 13 anos – eu menstruei pela primeira vez e, obviamente, aquilo que eu fazia o possível para que não acontecesse, precisava acontecer: eu precisava me despedir do dr. Asdrúbal como médico. Foi uma despedida especial, como foram todos aqueles 13 anos em que eu tive a sorte de tê-lo como pediatra. Quase no final da conversa, eu já segurando o choro, ouvi: “Nada termina aqui, ao contrário. Agora começa uma parte ainda mais bonita da sua vida e eu vou estar ao seu lado, não mais como médico, mas como amigo” e me deu o abraço mais gostoso desta vida.
Hoje, quando eu me preparava pra ser vacinada contra a Covid-19, eu lembrei do dr. Asdrúbal. Não por medo, ao contrário, por pensar que, com certeza, era a chance de uma parte ainda mais bonita da minha vida acontecer. O primeiro passo que todos nós daremos pra ter nossas vidas de volta, após um ano e três meses ouvindo falar em pandemia diariamente, o dia inteiro. Pior: com nossas vidas nas mãos não de um dr. Asdrúbal, mas de um governo omisso, irresponsável e totalmente cruel.
Mas o meu dia chegou! E foi hoje! Escolhi o Jockey Club da Gávea, um lugar que eu adoro e de lembranças tão especiais pra mim. E não fui sozinha! Comigo foi a Cookie, minha cocker de quase 13 anos, que durante todo o tempo da vida dela, foi levada por mim pra ser vacinada, anualmente. Nada mais justo do que ser levada por ela, não é mesmo? rs
E lá chegamos, antes das dez da manhã, num Jockey vazio, sem filas. No posto montado, com uma equipe gentilíssima, fui encaminhada para a mesa da Bárbara, que me explicou o que faria, me mostrou todo o material e, finalmente, aplicou a vacina da AstraZeneca em mim. Entregou o comprovante da vacina com a data da segunda dose já marcada. Não levei mais do que cinco minutos pra ser atendida, desde a entrada até a saída. Enquanto isso, Cookie passeava, fascinada, pela grama do Jockey – sim, ela ama andar na grama! E, enquanto eu esperava por ela, pensava no quanto de tempo todos nós já perdemos. Foi pouco mais do que um minuto pra eu ser parcialmente imunizada. Há quanto tempo isso já poderia ter sido feito, não é mesmo? Impossível não pensar nisso, justamente no dia em que foi divulgado que o governo brasileiro recusou oferta de vacina da Pfizer pra pagar a metade do preço pago pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido. Mas vamos em frente, rumo à segunda dose, sem descuidar, usando máscara, mantendo o distanciamento social e ficando em casa. Porque, queridas e queridos, cidadania é isso: cada um fazendo a sua parte!
Ah! Dr. Asdrúbal, querido, esteja você onde estiver, sua big girl não deu vexame!