Envelhecer não é horrível, o preconceito é!

As redes sociais, de maneira geral, têm permitido identificar o pior lado de muitos seres humanos. Não me refiro a bate-bocas e baixarias, não. Estou me referindo a preconceito, da pior qualidade, vergonhoso mesmo. Como se isso já não bastasse, é justamente quem deveria somar, que divide e subtrai. Ontem de manhã, li uma postagem da jornalista Patricia Pontalti, perfil que eu sigo no Instagram. Ela, além de bem humorada, antenada e inteligente, é uma das mulheres mais charmosas que eu já vi. Na tal postagem, a Patricia, 46 anos, escreveu: “Já publiquei esta frase, mas ontem uma seguidora me disse isto, que estava velha demais pra começar a correr. Quase gritei com ela. É mentira! Nos fazem acreditar nisto, afinal, parece que nós, mulheres, estamos sempre velhas demais pra alguma coisa. Aos 12, velhas demais pra brincar de boneca. Aos 20, velhas demais pra mudar de curso na faculdade. Aos 30, velhas demais pra casar. Aos 40, velhas demais pra separar. Aos 50, velhas demais pra sensualizar. Aos 60, velhas demais pra viajarmos o mundo. Sempre velhas demais pra recomeçar, pra sermos quem quisermos, pra usarmos a roupa que queremos, para trocarmos de carreira, pra mandarmos tudo pra o inferno. Não! A gente nunca é velha demais pra nada! Podemos brincar, amar, pirar, sensualizar, transformar, arriscar quando quisermos, na idade que tivermos, quando nos sentirmos prontas, quando desejarmos. O tempo é nosso. A vida é nossa!”

A jornalista Patricia Pontalti, colunista da revista ‘Donna’
E eu, do alto dos meus 57 anos, faço coro com a Patricia. O tempo é nosso, sim! A vida é nossa, sim! Que tipo de criatura é capaz de dizer para uma pessoa, que a idade dela a impede de algo? E uma mulher dizer isso pra outra? Jura? Quanta ignorância!

A postagem de Patricia após o comentário preconceituoso de sua seguidora
Vale lembrar, ao menos pra criaturas como essa seguidora da Patricia, que começamos a envelhecer no dia em que fomos gerados. Envelhecer é tornar-se mais velho e isso, queridas e queridos, acontece a cada segundo. Tenha você 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70 ou 100 anos! Que coisa estranha é essa de usar a palavra velha como ofensa ou desonra? Ser velho é uma honra, desde que, claro!, a pessoa tenha construído um caminho do qual se orgulhe e, com certeza, uma sem noção, que acha uma pessoa de 40 e poucos anos velha, com certeza construiu um caminho com poucas razões pra se orgulhar.

Mais uma das boas frases do perfil da Patricia no Instagram
Na semana passada, nos comentários de uma matéria que eu li sobre hérnia de disco – eu fui diagnosticada com três, há pouco mais de dois anos, e contei aqui a minha “convivência” com essa lesão -, um me chamou a atenção pelo preconceito. A pessoa dizia que hérnia de disco é “coisa de velho”. Além do preconceito, mais uma vez, a ignorância: este tipo de lesão tem maior incidência em pessoas entre 25 e 40 anos de idade. A hérnia de disco é causada por fatores genéticos, ou seja, nada, rigorosamente nada, tem a ver com a idade.
Etarismo, ageísmo, discriminação por idade, preconceito ou seja lá qual for o nome que se der, o que é preciso combater e rechaçar, sempre, é a intolerância. Envelhecer não é horrível, o preconceito é!
Juventude nada garante. Tem muita mulher de 30, 40 que, fisicamente, está mais envelhecida do que outra de 50, 60. A frase “O que vale nesta vida é a vida que se leva” é a melhor definição do que é felicidade, e eu me refiro à felicidade real, sem “truques”, felicidade mesmo, sem filtros, nem hipocrisia.

Jane Fonda, à esquerda, em 1959, em sua primeira capa da revista Vogue e, à direita, em 2018, aos 80 anos
E eu não poderia deixar de falar sobre uma das mulheres mais lindas de todos os tempos, a musa Jane Fonda, que hoje, aos 83 anos, continua maravilhosa, interpreta uma das protagonistas da divertida série ‘Grace and Frankie’ – ela vive a Grace – há seis anos e ainda encontra tempo para participar de manifestações por melhoria nas políticas climáticas. Ativista, Fonda, que lidera o movimento ‘Fire Drill Fridays’, de protestos pela causa, foi presa quatro vezes, em 2019, enquanto protestava junto com um grupo no Senado, em Washington, nos Estados Unidos.

Em novembro de 2019, Jane Fonda se manifestando em prol de uma política mais justa para as questões climáticas
Outra mulher maravilhosa, aos inacreditáveis 99 anos de idade, é a americana Iris Apfel, empresária, designer de interiores e ícone da moda nos Estados Unidos. Iris, que soma 1,6 milhão seguidores no Instagram, ficou conhecida pelo vigor com que leva sua vida.

A incrível Iris Apfel
Não é saudável temer o futuro. Vamos envelhecer, todos nós, homens e mulheres. Vamos envelhecer, lindas ou não. Vamos envelhecer: eu, você e Gisele Bündchen. O que você vai fazer com esta fase da sua vida, não depende do outro.
Eu poderia citar tantas e tantas outras mulheres maravilhosas: Glorinha Khalil, Costanza Pascolato, Madonna, Julianne Moore, Cate Blanchett – uma das minhas musas -, Meryl Streep, Maria Sílvia Bastos Marques…e tantas mais, mas pra ser justa, cito minha mãe, Beatriz, que me fez compreender o quanto envelhecer não precisa doer, nem ser motivo pra se envergonhar, ao contrário, pode ser motivo de muito orgulho. Porque, acredite, eu não trocaria a Renata do presente pela Renata do passado, de jeito nenhum!