Nós, brasileiros, nunca fomos tão infelizes!
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Estamos todos cansados, isso é um fato. Eu escrevi cansados? Errei…vai ver é o cansaço, ou a exaustão! Porque é isso que estamos: todos exaustos, e muito. E quem são esses “todos” a quem me refiro? Os brasileiros. Não apenas, como o resto do mundo, por uma assustadora pandemia, mas principalmente, por tudo que a envolve, começando pelos próprios brasileiros e “terminando” no despreparado que foi eleito presidente deste país. Quem não se indignou – e ainda se indigna – assistindo cenas de praias lotadas, baladas com gente grudada, sem máscara, nem qualquer outra proteção? Os ignorantes não se indignaram, apenas eles. Os mesmos que devem ter lotado as praias, muitas vezes, ao longo deste ano e não perderam uma única balada desde que a Covid-19 começou a matar e, graças a essas mesmas pessoas, chegamos a mais de 300 mil mortos. Eu ainda me choco com um morto, que dirá com esse número que tira a minha cabeça do eixo diariamente, várias vezes ao dia. Eu não faço parte da “tchurma” que insiste em se declarar happy, happy, happy, apesar das famílias se despedaçarem, de profissionais perderem seus empregos, sua dignidade, de ver a minha cidade – aquela que um dia, muitos e muitos e muitos anos atrás foi maravilhosa – se transformar no mais absoluto caos.
Eu sou uma daquelas pessoas que preferem, a todo o custo, manter a esperança, ser otimista, mas não sou do tipo avestruz, que enfia a cabeça embaixo da terra pra não enxergar a realidade. Isso, jamais. Ambas as maneiras de encarar a realidade, me deram força e coragem pra viver tão de perto um Alzheimer como o que atingiu meu ex-marido Fred. Com toda a certeza, aliás, nada se parece tanto com essa doença, quanto a pandemia que temos enfrentado. Perdemos o direito de ir e vir – ou alguém se sente pleno e tem prazer em circular por aí com uma máscara tampando o rosto? -, fomos obrigados a encontrar novas formas de nos relacionar, de trabalhar, de viver! Teve algo de bom em todas essas mudanças? Claro que sim! Eu aprendi tanto, principalmente a confiar no meu sexto sentido. Lá no início da quarentena, bem no início, lembro de gente arriscando o palpite de que a nova realidade tornaria as pessoas mais humanas, mais próximas, capazes de compreender a dor alheia. Eu em momento algum acreditei, sempre tive a mais absoluta das certezas de que o ser humano sairia de tudo isso rigorosamente igual. E o brasileiro, o carioca, mais precisamente, aquele que já foi conhecido por ser o gente boa do pedaço, idem, e se mudou, mudou pra pior.
O que eu estou querendo dizer com tudo isso? Que a vida não vale a pena? Que jamais sairemos dessa? Que o mundo vai ficar, pra sempre, de pernas pro ar? Não, não, não e não. Quero apenas constatar que a realidade é mesmo outra. Que o mundo é, sim, outro. Que todos nós, tenhamos consciência, ou não, também nos tornamos outros. Neste momento, menos felizes, mais infelizes. Porque o cenário a nossa volta é desolador. O futuro é ameaçador. Quem não olha em volta buscando um caminho melhor e não se frustra? Porque agora, hoje, neste momento, somos obrigados a suportar o insuportável.
Quem ainda não se olhou no espelho e não encontrou uma ruga nova, tristeza no olhar? Quem ainda não se sentiu, literalmente, sem fôlego? Quem não está exausto de lavar tudo o que vem dos mercados, da feira e até do delivery? Pra onde foi, de verdade, a tão conhecida e invejada felicidade brasileira? Segundo o ranking ‘World Happiness Report’ – o ‘Relatório da Felicidade Mundial’ -, em 2020, a nossa felicidade saiu da 29ª. posição, que ocupava em 2019, pra um distante 41º. lugar, entre os 95 países avaliados. Nós, brasileiros, nunca fomos tão infelizes. O relatório que avaliou 2020 queria saber mais sobre dois pontos principais: o efeito da Covid-19 na qualidade e na estrutura de vida das pessoas e como os respectivos governos de todo o mundo lidaram com esta crise. Bom, se eu começasse a responder pela segunda pergunta, me desesperaria ainda mais, afinal, que governo, temos um? A conclusão dos pesquisadores não é lá muito animadora porque, pra eles, a pandemia ainda está longe do fim. Um governo liderado por negacionistas e genocidas, marcas como a dos 300 mil mortos no Brasil, a economia combalida e sem um pulso forte pra conduzi-la a despeito de tudo, mais a falta de empregos e de comida na mesa de quem precisa, são dados que mostram o quanto tudo isso ainda impactará com força na vida dos brasileiros. Fácil não será e, pra nós, brasileiros, jamais foi. Apesar disso, a alegria nunca nos abandonou. Talvez ela tenha ido até ali, acreditando que na volta encontrará um país mais maduro, mais lúcido, mais firme…eu não acredito nisso, mas acredito, sim, que sairemos dessa. Que ainda demora, não há dúvida. Que ainda haverá muito sofrimento, também não há dúvida. Saí de um furacão chamado Alzheimer muito mais triste, quase sem conseguir enxergar um futuro, mas eu garanto a você que isso passa.
Eu aprendi com o meu pai, nordestino, determinado, batalhador e de bem com a vida, que o verbo desistir não está entre os que eu conjugo. Eu aprendi com a minha mãe, a pessoa mais equilibrada e doce que eu conheci, que nenhuma dor dura pra sempre. Eu aprendi com o Fred que em todo o momento difícil surge um “anjo”, e eu sou a prova viva de alguns “milagres”!
Pra tudo isso passar, a postura diante dos problemas, de cada dificuldade, fará toda a diferença no final. Portanto, queridas e queridos, não se obriguem a estar bem, a se sentirem felizes. Porque felicidade boa mesmo é aquela que não precisamos forjar, simular. Felicidade verdadeira é a que transborda pelos olhos, pelo sorriso, pela intensidade de vida. Não somos um story de Instagram, não temos compromisso com a perfeição, com a estabilidade em tempo integral! Somos humanos, logo, imperfeitos, cheios de erros, falíveis, e – felizmente! – de acertos também. Pra que viver na hipocrisia, num mundo de faz de conta, numa realidade que não é a sua? Assuma o dia de infelicidade sem se preocupar com os outros. Porque se felicidade fosse algo sempre tão ao alcance das nossas mãos, de nada valeria. Eu não disse que somos humanos?