Neste Dia do Jornalista, falo sobre ‘The Dropout’, a série que conta mais um escândalo denunciado por um jornalista!
Neste 7 de abril de 2022, Dia do Jornalista, a justa homenagem a esse profissional que tem, não apenas o poder de contar a história, mas o de fazer a diferença e mudar o curso de milhares de vidas. Ou alguém discorda que Bob Woodward e Carl Bernstein fizeram isso no episódio Watergate – escândalo político ocorrido em meados de 1972 nos Estados Unidos cujas investigações posteriores culminaram com a renúncia, em agosto de 1974, do então presidente americano Richard Nixon? Para ficar apenas na dupla mais conhecida entre os jornalistas investigativos que foram fundo e denunciaram esquemas fraudulentos. De olho nisso, eu, como jornalista, homenageio os bons da profissão, aqueles que sabem o que representa praticar o bom jornalismo, falando sobre John Carreyrou, que desvendou o esquema da Theranos, o qual envolvia sua CEO, Elizabeth Holmes, nos Estados Unidos. O caso ganhou série na Star+ e estreou no dia 3 de março deste ano. O último episódio – de um total de oito – foi liberado justamente hoje.
A nova minissérie conta a história de Elizabeth Holmes, interpretada por Amanda Seyfried e de sua empresa, a Theranos, desde o início de tudo, com a ambição desmedida da criadora da startup e a fama mundial quando foi capa das mais diferentes revistas, até sua queda, bastante previsível para quem acompanhou sua trajetória.
A THERANOS
O nome Theranos era a junção de Therapy ( terapia ) e Diagnosis ( diagnóstico ). A promessa quase infantil da Theranos, a empresa fundada em 2003 por Elizabeth Holmes, aos 19 anos, era usar uma única gota de sangue para detectar diversas doenças. A ideia levou à criação de máquinas portáteis que receberam o nome de Edison, responsáveis por processar as amostras de sangue e detectar anormalidades – teoricamente, equipamentos muito sofisticados e superiores aos que processavam os exames daquela época.
A empresa decidiu desenvolver seu próprio recipiente para a armazenagem do sangue: criaram o nanotêiner, com meia polegada de tamanho, responsável por armazenar 150 microlitros, substituindo vários tubos tradicionais de coleta de sangue. Segundo a Theranos, o sistema estava preparado para realizar até 250 testes: de diabetes e colesterol a câncer.
Tim Draper, bilionário americano que conhecia Elizabeth desde pequena, foi o primeiro a apostar na Theranos, emprestando US$ 1 milhão à empresa. Em 2004, a companhia já havia arrecadado US$ 6,4 milhões. Apenas um ano depois, mais US$ 16 milhões foram investidos. Em 2014, os investimentos somavam US$ 400 milhões e a companhia empregava 800 profissionais, e foi avaliada, à época, em US$ 9 bilhões.
John Ioannidis, professor de medicina da Universidade de Stanford, levantou as primeiras suspeitas sobre a confiabilidade da empresa de Elizabeth Holmes, com quem tinha rixas antigas. Em um artigo, o professor contou que a Theranos não tinha pesquisas revisadas por cientistas e publicadas em periódicos especializados. John decidiu ir até o fim para denunciar Holmes e procurou o jornalista John Carreyrou, do ‘The Wall Street Journal’, para quem narrou toda a história e denunciou que as máquinas Edison não eram tão eficazes quanto a Theranos prometia. A matéria então provou que os equipamentos apresentavam resultados imprecisos.
Para piorar, foi descoberto que a tecnologia da Theranos não era usada em todos os testes oferecidos pela empresa e que muitos exames passavam por máquinas tradicionais. A companhia começou a ser investigada e foi obrigada a enfrentar investidores, ações judiciais e sanções de agências governamentais americanas. Entidades reguladoras do país pediram dados precisos sobre a Edison e a qualidade dos exames realizados pela máquina.
A investigação do jornalista John Carreyrou revelou mentiras sobre parcerias com laboratórios farmacêuticos, discrepâncias sobre os investimentos recebidos, testes forjados e muito mais. A acusação de fraude contra Elizabeth Holmes foi feita em junho de 2018. Três meses depois, a Theranos foi dissolvida.
Com o escândalo, A FDA – agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos – decidiu investigar a companhia e os dados fornecidos por ela. A revista Forbes reavaliou a Theranos em US$ 800 milhões e, como as ações de Elizabeth não eram preferenciais, a fortuna da empresária foi de US$ 4,5 bilhões a nada, de um dia para o outro.
Para quem, como eu, ama séries e minisséries que narram fatos reais, ‘The Dropout’ é imperdível. Embora protagonista, Amanda Seyfried deixa a desejar pelo excesso de caretas e pelo tom caricato que imprimiu à Elizabeth Holmes. Já Naveen Andrews, que interpreta Sunny Balwani, parceiro sentimental e das fraudes cometidas pela ex-CEO da Theranos, dá um verdadeiro show. O elenco é de primeiríssima e a caracterização dos atores impecável.