Mentira: brincadeira de criança, doença ou falta de caráter?
![](http://renatasuter.com.br/wp-content/uploads/2022/04/alfinetada6-880x640.jpg)
Quando a mentira se torna um vício, uma forma de levar a vida, as histórias deixam de ter graça e as consequências para o equilíbrio emocional da pessoa e de quem com ela convive podem ser nefastas. Mentir compulsivamente, afeta o julgamento racional, o relacionamento familiar e, especialmente, o social.
Mitomania: mentir é doença
A mentira pode ser considerada uma patologia e isso tem nome: mitomania. Um quadro clínico onde pessoas que contam mentiras compulsivamente podem ser inseridas. Um comportamento, aliás, causado por transtorno psicológico.
A frequência com que isso acontece é o principal sinal de alarme deste problema, e ao qual se deve estar atento. A mentira excessiva é um sintoma comum de diversas doenças mentais. Óbvio que o primeiro passo de quem percebe isso deve ser buscar ajuda para o(a) mitômano(a), mas é importantíssimo se resguardar e ficar atento às consequências dessas mentiras. Quantas séries têm mostrado isso, não é mesmo? E, nelas, estão, juntos e misturados, mitômanos e pessoas de péssimo caráter. Sim, porque gente de mau caráter ama uma mentira. Criaturas como essas, habitualmente, usam casas e escritórios que não são seus para tentar aparentar um poder que jamais tiveram e, assim, passar a imagem de bem sucedidas – embora, muitas, não têm dinheiro sequer pra pagar aquilo que gostam de aparentar ter.
O documentário ‘Trust No One: The Hunt for The Crypt to King’, que conta a história a história de Gerry Cotten, um jovem canadense que criou uma exchange e morreu, supostamente, levando para o túmulo as chaves privadas que davam acesso a milhões em Bitcoins. A vida de Gerry, descobriu-se recentemente, era permeada por mentiras e, a pior delas, arrasou com a vida de inúmeras pessoas mundo afora. A mentira pode ser muito mais nociva do que imaginamos.
Mentir por que?
Existem várias razões que podem levar uma pessoa a transformar a mentira numa forma de vida. Uma das principais é a necessidade de chamar atenção ou de obter reconhecimento por parte dos outros, por vezes com o desejo implícito de se dar bem. As principais causas da mentira patológica são decorrentes de traços da personalidade e problemas nas relações familiares.
Pessoas que sofrem de transtorno da personalidade antissocial, normalmente, mentem para se beneficiar em relação aos outros. Alguns indivíduos com transtorno de personalidade borderline podem mentir para chamar a atenção.
Consequências
As repercussões negativas que a mentira pode ter a nível familiar e social são inquestionáveis. A falta de confiança destrói amizades e relacionamentos e com a progressão da doença, a mentira pode se tornar um problema, causando confusões de ordem social, psicológica e até legal.
Como tratar
O tratamento de problemas associados à mitomania reúne vários profissionais e áreas de intervenção. O diagnóstico da mitomania pode ser feito por um médico psiquiatra ou psicoterapeuta após uma avaliação psicológica. Na maioria dos casos, o tratamento envolve acompanhamento psicológico e pode até mesmo exigir o uso de psicofármacos.
O apoio da família e dos amigos será fundamental, pois proporcionarão relações mais saudáveis de confiança e possibilitarão que a pessoa recupere o autocontrole e a autoestima.
No entanto, todo o cuidado é pouco na hora de escolher o profissional que cuidará do caso. Lamentavelmente, inúmeras situações têm mostrado a importância de se ter certeza sobre a idoneidade de um psicólogo, psiquiatra ou psicoterapeuta. Procure se cercar de profissionais com experiência e que tenham boa indicação.
A mentira pode ainda proporcionar uma sensação de prazer e poder que pode levar a acentuar este comportamento. Algumas pessoas, à medida em que os amigos acreditam, começam a contar cada vez mentiras, assumindo essa atitude como uma repetição constante na sua vida, sem uma finalidade específica. Baixa autoestima, insegurança, não enfrentamento da angústia ou frustração associada a alguma situação, são as principais causas deste tipo de transtorno. A mentira se torna um hábito, sem fim específico.
Benefícios da mentira?
Mitômanos podem inventar histórias sobre qualquer coisa, de situações cotidianas a eventos grandiosos. E, quando buscamos entender a razão disso, muitas vezes, não conseguimos compreender a necessidade dessa atitude. O mentiroso patológico ou acredita fielmente na realidade criada em sua mente, ou é tão convincente que parece acreditar em suas mentiras. Seja como for, essa postura de aparente confiança coloca dúvidas na cabeça das pessoas. Elas começam a questionar a sua própria percepção dos acontecimentos e podem até comprar a versão inventada pelo mentiroso. Afinal, será que é possível alguém mentir com tanta certeza assim?
A ausência do medo de ser descoberto é um dos motivadores dos mentirosos compulsivos. Pessoas que não estão acostumadas a mentir demonstram nervosismo em sua linguagem corporal ou através da própria expressão facial. O mentiroso patológico esconde bem as emoções, como mente com frequência, domina o controle de seu rosto e de sua linguagem corporal. Também não sente culpa ao mentir, mesmo quando tem certeza que a mentira prejudicará a vida de terceiros. Quando é descoberto, utiliza várias estratégias para modificar a sua imagem.
Sabe aquela pessoa que diz ter uma empresa, mas sequer consegue usar seus pseudo conhecimentos na própria atividade? Quem nunca encontrou, Instagram afora, criaturas com perfis de muitos seguidores, milhares muitas vezes – sempre comprados -, e tem sites de retumbante fracasso? Difícil saber se a mentira vem de algo que precisa ser respeitado, que é a doença, ou se é a total falta de caráter mesmo. Por isso mesmo, toda a atenção ao se relacionar com quem lida com a mentira como meio de vida.